A morte é um mecanismo natural da vida, é uma espécie de ciclo, os seres nascem, se desenvolvem e deixam de existir no planeta. Se olharmos a questão na perspectiva natural, é um acontecimento essencial, pois evita um crescimento acelerado das espécies e uma superlotação do planeta, o que acarretaria o fim da Terra e por consequência de todos os seres vivos. Numa perspectiva estritamente biológica e particular de cada indivíduo, esse acontecimento representa a falência das funções vitais e o fim da existência do ser enquanto organismo vivo. No entanto, para os seres humanos, esse evento é profundamente indesejado e tem diferentes significados. O homem diante da sua finitude, fragilidade e limitação sempre criou representações simbólicas para dar conta de explicar e aceitar o fim de uma existência. O mito, a religião, a filosofia e a ciência sempre buscaram explicar essa questão, cada uma do seu modo, mas o fato é que isso continua e provavelmente continuará sendo uma incógnita.
Até aqui expus meu pensamento acerca da morte no seu sentido usual, isto é, o fim das funções vitais, o fim da existência, a separação definitiva entre o sujeito e a vida social. Mas convido o leitor a refletir sobre um tipo de "morte" que não necessariamente significa o encerramento das funções biológicas e o encerramento definitivo da vida social. Na sociedade há situações em que os indivíduos perdem quase que completamente suas funções sociais, isto é, morrem para a família e para todo o conjunto da sociedade. As mazelas sociais produzem indivíduos marginalizados e invisíveis que definitivamente estão mortos para a humanidade.
A fome, as drogas, a solidão, o desemprego, a desestruturação das famílias e tantos outros problemas sociais e pessoais matam os sonhos, o sentido da vida, a convivência social harmoniosa. Então, quando enxergamos a morte para além do seu sentido estritamente biológico, começamos a desenvolver uma visão mais ampla, entendendo que a vida ou a existência não é apenas um coração pulsando, mas sim o sentido de existir e o sentir-se vivo, cumprindo suas funções sociais. Se a existência humana fosse somente nascer, crescer, se reproduzir e morrer, estaríamos colocando o homem numa condição de mero animal irracional.
Todos querem saber se existe vida após a morte, a religião tem diversas explicações, tem a crença de reencarnação, a crença de existência do céu, a crença do encontro com Deus. Isso conforta as pessoas e cria uma ideia de continuidade da vida, só que de outra forma, uma forma não material ou espiritual. Estamos muito atentos para essa morte biológica e para a possibilidade de vida espiritual após a morte, mas muitas vezes ignoramos que a vida terrena não é valorizada pelo homem e ignoramos também que morte não é apenas a destruição súbita do corpo, mas também a destruição social do corpo, que mantêm suas funções orgânicas, porém vai perdendo quase que completamente suas funções sociais. A morte biológica cumpre uma função importante dentro da lógica da natureza, porém não podemos dizer o mesmo da "morte social", visto que a mesma funciona de modo totalmente contrário à ordem natural das coisas. Ela pode e deve ser evitada. Está dentro da capacidade e possibilidade do homem evitá-la. A primeira é divina e natural. A segunda é humana e perversa.
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